Série Cosmos - Introdução

Serie Cosmos
INTRODUÇÃO
                                                                                                                                                CAPÍTULO-1 ~>

Sêneca
CosmoBlog - Cosmos
Tempo virá em que uma pesquisa diligente e contínua
esclarecerá aspectos que agora permanecem escondidos. O
espaço de tempo de uma vida, mesmo se inteiramente devotada ao estudo do céu, não seria suficiente para investigar um objetivo tão vasto... este conhecimento será conseguido somente através de gerações sucessivas. Tempo virá em que os nossos descendentes ficarão admirados de que não soubéssemos particularidades tão óbvias a eles... Muitas descobertas estão reservadas para os que virão, quando a lembrança de nós estará apagada. O nosso universo será um assunto sem importância, a menos que haja alguma coisa nele a ser investigada a cada geração... A natureza não revela seus mistérios de uma só vez.
Sêneca, Problemas Naturais
 Livro 7, século I




Na antigüidade, nos costumes e nas conversas do dia-a-dia,
os acontecimentos mais mundanos eram relacionados
com os principais eventos cósmicos. Um exemplo interessante
é o encantamento contra o verme que os assírios de 1.000
a.C. imaginavam que provocava a dor de dente. Ele começa
com a origem do universo e termina com a cura para a dor de
dente:

Após Anu ter criado os céus,
E os céus terem criado a terra,
E a terra ter criado os rios,
E os rios terem criado os canais,
E os canais terem criado o pântano,
E o pântano ter criado o verme,
O verme procurou Shamash chorando,
Suas lágrimas se derramando diante de Ea:
"O que me darás como comida,
O que me darás para beber?"
"Eu te darei o figo seco E o damasco."
"O que representam eles para mim? O figo seco
E o damasco!
Eleve-me, e entre os dentes
E as gengivas deixe-me morar!...
"Por teres dito isto, ó verme,
Possa destruir-te com a força da
Sua mão!

(Encantamento contra dor de dente).

O tratamento: Cerveja de segunda classe... e óleo que
tu deverás misturar; O encantamento, tu deverás recitá-lo três vezes seguidas e então colocar a poção sobre o dente



Fragmentos da religião suméria
CosmoBlog - Cosmos
Nossos ancestrais ansiavam compreender o mundo, mas não conseguiram encontrar um método. Imaginaram um universo pequeno, fantástico e arrumado, no qual as forças dominantes
eram deuses como Anu, Ea e Shamash. Neste universo os seres humanos desempenharam um papel importante, senão central. Estamos intimamente entrosados com o resto da natureza. O tratamento da dor de dente com cerveja de segunda classe estava associado aos mais profundos mistérios cosmológicos. 

   Hoje em dia descobrimos um modo mais abrangente e distinto para entender o universo, um método chamado ciência; revelou-nos um universo tão antigo e tão vasto que os problemas dos seres humanos pareciam, à primeira vista, decorrentes de pequenas implicações. A nossa visão do Cosmos cresceu. Pareceu-nos, a princípio, remoto e distante. Mas a ciência descobriu não somente que o universo encerra uma grandeza implícita e estática acessível à compreensão humana, mas também que somos, em um sentido muito real e profundo, uma parte deste Cosmos, nascidos dele, nosso destino irremediavelmente ligado a ele. Os eventos humanos básicos e os mais triviais remontam ao universo e suas origens. Este livro se dedica à exploração desta perspectiva cósmica.


Primeira foto tirada em Marte
CosmoBlog - Cosmos
 No verão e outono de 1976, como membro do Viking Lander Imaging Flight Team, engageime, com outros vários colegas cientistas, na exploração do planeta Marte. Pela primeira vez na história da humanidade, fizemos aterrissar duas espaçonaves na superfície de um outro mundo. Os resultados, descritos detalhadamente no Capítulo 5, foram espetaculares, o significado histórico da missão inegavelmente visíveis, embora o público não tenha conhecimento de quase nada destes importantes acontecimentos. A imprensa foi, em sua maior parte, desatenta; a televisão também ignorou a missão. Quando tornou-se claro que uma resposta definitiva sobre a questão da vida em Marte não viria, o interesse diminuiu ainda mais. Há pouca tolerância para a ambigüidade. Quando descobrimos que o céu em Marte era de uma coloração amarelo-róseo e não azul como tinha sido erroneamente noticiado, o fato foi saudado por um coro de vaias pelos repórteres reunidos — eles queriam que Marte, até mesmo neste aspecto, fosse semelhante à Terra. Acreditavam que os índices de audiência se desinteressariam progressivamente quando fosse revelado que aquele planeta era diferente do nosso, embora as paisagens marcianas fossem desconcertantes. Fui positivo, baseado em minha experiência, que existe um enorme interesse geral na exploração dos planetas e em muitos tópicos científicos afins — a origem da vida, a Terra e o Cosmo, a procura de uma inteligência extraterrestre, nossa conexão com o universo. Estou certo de que este interesse poderia ser incentivado pelo mais poderoso meio de comunicaçãoque é a televisão.

   Minhas idéias eram partilhadas com B. Gentry Lee, o analista dos dados da Viking e diretor de planejamento da missão, um homem de extraordinária capacidade organizacional. Decidimos,
corajosamente, fazer alguma coisa a respeito do problema. Lee propôs formarmos uma companhia de produção devotada a comunicações sobre ciência de maneira acessível e atraente. Nos meses seguintes nos detivemos em vários projetos. O mais interessante era uma proposta de perguntas da KCET, o Public Broadcasting Service de Los Angeles. Ao mesmo tempo concordamos em produzir uma série de treze capítulos para a televisão focalizando a astronomia, mas abrangendo uma ampla perspectiva dos seres humanos. Seria dirigido a uma audiência popular, e deveria ser visual e musicalmente fantástico, para tocar tanto o coração quanto a mente. Conversamos com redatores, contratamos um produtor executivo e descobrimo-nos engajados em um projeto com duração de três anos, chamado Cosmos. Quando foi elaborado, estimou-se uma audiência em todo o mundo de 140
milhões de espectadores, ou 3% da população humana do planeta Terra. Foi dedicado ao propósito de que o público é muito mais inteligente do que geralmente se acredita, que as questões científicas
mais profundas sobre a natureza e a origem do mundo despertam interesses e paixões em um grande número de pessoas. A época atual é um marco importante para a nossa civilização, e talvez para a nossa espécie. Qualquer que seja o caminho no qual enveredemos, nosso destino estará indissoluvelmente ligado à ciência. É essencial a nós, para a simples sobrevivência, entender a ciência. Além disso, ela é deliciosa; a evolução se processa de forma tal que temos prazer em compreendê-la, os que a entendem são mais prováveis de sobreviverem. A série para televisão Cosmos e o livro representam uma experiência com esperanças em comunicar algumas das idéias, métodos e alegrias da ciência.

   O livro e o seriado evoluíram juntos. De alguma forma, um se baseia no outro. Muitas ilustrações neste livro são baseadas em visuais magníficos preparados para a televisão. Mas livros e séries
televisivas têm audiências um tanto diferentes, e permitem vias de acesso diferentes. Uma das grandes qualidades de um livro é que é possível ao leitor retornar várias vezes a passagens obscuras ou difíceis; isto começa a ser possível, com o desenvolvimento da tecnologia do vídeo-tape e do vídeo-disco para televisão. Há muito maior liberdade para o autor na escolha do alcance e profundidade dos tópicos de um capítulo em um livro do que os cinqüenta e oito minutos e trinta segundos observados com real atenção de um programa de televisão não-comercial. Este livro mergulha mais profundamente em muitos tópicos do que a série para televisão. Há assuntos apresentados no livro que não aparecem na série e vice-versa. A seqüência de desenhos, de acordo com os traços de Tenniel, de Alice e seus amigos em ambientes de baixa e alta gravidade, era incerta, quando elaborada, de sobreviver aos rigores da edição televisiva. Estou encantado que estas ilustrações fascinantes do artista Brown e o texto correspondente tenham encontrado seu lugar aqui. Por outro lado, representações explícitas do Calendário Cósmico foram ressaltadas na série televisiva e não aparecem no livro — em parte por aparecer na minha obra Os Dragões do Éden; igualmente não apresento aqui a vida de Robert Goddard com muitos detalhes, porque há um capítulo no Broca's
Brain devotado a ele. Mas cada episódio da série televisiva segue de perto o capítulo correspondente do livro; e gostaria de pensar que o prazer decorrente de cada uma das duas formas de apresentação será engrandecido pela referência à outra.

   Com o sentido de esclarecer, introduzi em alguns casos a mesma idéia mais de uma vez, na primeira superficialmente e nas seguintes com mais profundidade. Isto ocorre, por exemplo, na introdução aos objetos cósmicos no Capítulo I, que são examinados em maiores detalhes posteriormente; ou na apresentação das mutações, enzimas e ácidos nucléicos no Capítulo II. Em poucos casos os conceitos são apresentados fora de uma ordem histórica. Por exemplo, as idéias dos antigos cientistas gregos são apresentadas no Capítulo VII, bem após a discussão sobre Johannes
Kepler no Capítulo III. Acredito que uma apreciação dos gregos pode ter melhoras subsídios após constatar-mos que eles apenas não concluíram integralmente as suas observações.

   Por ser a ciência inseparável do resto do esforço humano, não pode ser questionada sem incursões, algumas vezes de relance, em outras em mergulhos profundos, com aspectos social, político, religioso e filosófico. Mesmo filmando uma série para televisão sobre ciência, a devoção mundial às atividades militares se torna inoportuna. Simulando a exploração de Marte no deserto de Mohave com uma versão perfeita da Viking Lander, éramos repetidamente interrompidos pela Força Aérea dos Estados Unidos executando evacuações com bombas em um campo de teste próximo. Em Alexandria, Egito, das nove às onze, em todas as manhãs, nosso hotel se submetia à prática de bombardeios aéreos pela Força Aérea egípcia. Em Samos, Grécia, a permissão para filmar em todos os locais foi recusada até o último momento pelas manobras da NATO, e que eram claramente a construção de abrigos subterrâneos e estabelecimento de artilharia e tanques nas encostas. Na Tchecoslováquia, o uso de walkie-talkies para organização da filmagem de logística em uma estrada rural atraiu a atenção de um avião de caça da Força Aérea tcheca, que circulou por sobre nós até o comando ter-se assegurado de que não estava havendo ameaças à segurança nacional. Na Grécia, Egito e Tchecoslováquia, nossa equipe de filmagem foi acompanhada sempre em todos os locais por agentes de segurança do Estado.
Perguntas iniciais a respeito de filmar em Kaluga, URSS, para uma apresentação proposta sobre a vida de um pioneiro russo da astronáutica, Kostantin Tsiol-kovsky, foram desencorajadas porque,
como descobrimos posteriormente, haveria julgamento de dissidentes a serem realizados no local. Nossa equipe de câmeras foi alvo de inúmeras gentilezas em todos os países visitados, mas a presença militar maciça, o medo íntimo das nações esteve sempre presente. A experiência confirmou minha resolução de expor, quando relevantes, questões sociais tanto no seriado como no livro.

   O espírito da ciência é que ela própria se corrige. Novos resultados experimentais e idéias estão continuamente resolvendo mistérios antigos. Por exemplo, no Capítulo IX, discutimos o fato do Sol parecer estar gerando muito poucas das partículas indefinidas chamadas neutrinos. Algumas explicações propostas são enumeradas. No Capítulo X nos pergunta-mos se existe matéria suficiente no universo para impedir a recessão das galáxias distantes, e se o universo é infinitamente antigo e, portanto, nãocriado. Algum esclarecimento em ambas as perguntas pôde desde então ter sido lançado pelas experiências de Frederick Reines, da Universidade da Califórnia, que acredita que ele tenha descoberto(a) que os neutrinos existem em três estados diferentes e que somente um deles pode ser detectado pelos telescópios de neutrinos que estudam o Sol; e (b) que os neutrinos, diferentemente da luz, possuem massa, de modo que a gravidade de todos os neutrinos no espaço ajudam na limitação do Cosmos e impedem a sua expansão constante. Experimentos futuros mostrarão se estas idéias estão corretas. Porém, elas ilustram o acesso renovado contínuo e vigoroso do esclarecimento recebido, que é fundamental no empreendimento científico.

   Em um projeto desta magnitude, é impossível agradecer a todos que contribuíram para a sua realização. Entretanto, desejo mencionar especialmente B. Gentry Lee; o staff de produção do
Cosmos, incluindo os produtores-seniores Geoffrey Haines-Stiles e David Kennard e o produtor-executivo Adrian Malone; os artistas Jon Lomberg (que desempenhou um papel crítico no projeto e organização originais do visual do Cosmos), John Allison, Adolf Schaller, Rick Sternbach, Don Davis, Brown e Anne Norcia; os consultores Donald Goldsmith, Owen Ginge-rich, Paul Fox e Diane Ackerman; Cameron Beck; a administração do KCET, particularmente Greg Andorfer que nos encaminhou a primeira proposta da KCET, Chuck Allen, William Lamb e James Loper; e os redatores e coprodutores do seriado Cosmos, incluindo a Atlantic Richfield Company, a Corporation for Public Broadcasting, a Arthur Vining Davis Foundations, A Alfred P. Sloan Foundation, a British Broadcasting Corporation e a Polytel International. Outros que auxiliaram a esclarecer os objetivos ou as vias de acesso estão mencionados em outras páginas. A responsabilidade final pelo conteúdo do livro é, naturalmente, minha. Agradeço ao staff da Random House, particularmente ao meu editor, Anne Freedgood, e ao projetista Robert Aulicino, por sua capacidade e paciência quando aspectos do seriado e do livro pareciam entrar em conflito. Tenho um débito especial de gratidão com Shirley Arden, minha assistente executiva, por datilografar os rascunhos iniciais deste livro e introduzir os posteriores em todos os estágios de produção com a sua inusitada competência. Esta é uma das muitas dívidas às quais o projeto Cosmos é profundamente grato. Estou mais agradecido do que posso dizer à administração da Universidade de Cornell concedendo-me dois anos de dispensa para prosseguir com este projeto, aos meus colegas e alunos, aos colegas da NASA, JPL e do Voyager Imaging Team.

   Minha dívida maior na execução do Cosmos é com Ann Druyan e Steven Soter, meus co-autores no seriado para TV. Contribuíram fundamentalmente, e com freqüência, para as idéias básicas e suas conexões, para a estrutura intelectual inteira dos episódios, e para a felicidade do estilo. Estou profundamente grato por suas vigorosas leituras críticas das versões iniciais do livro, por suas sugestões criativas e construtivas nas revisões de vários esboços e suas principais contribuições ao script da televisão, que influenciaramde várias maneiras no conteúdo deste livro. O prazer encontrado
em muitas das nossas discussões é uma das principais recompensas do projeto Cosmos.
Ithaca e Los Angeles. Maio de 1980


Cosmos de Carl Sagan
Introdução 
parte única
_________________________________________________
Cosmos é o que chamamos de uma obra clássica.
Eu mesmo já o vi cerca de 20 vezes
e toda vez encontro algo novo.
A série Cosmos e recheada
e surpreendente a todos aqueles que
buscam uma viajem no oceano côsmico!
Deguste cada ideal e argumento pronunciado
por esse gênio que o fez. Boa leitura e boa viajem!

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