Fertichismo e naturalização

Sociedade industrial   
O poeta Carlos Drumond de Andrade escreveu um poema chamado "Eu etiqueta" que transcrevemos abaixo:

Em minha calça está grudado um nome
Cérebro moldado pelas marcas
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fuma, até hoje não fumei.
(...)Fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escrevo da matéria anunciada.
(...)Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante, mas objeto
Que se oferece com signo de outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o titulo de homem,
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.

    Sabemos que a a sociedade capitalista é toda voltada para o produção de mercadorias. Parece que isto é só uma questão econômica, mas não é bem assim. O poema de Drummond ajuda a entender que quando organizamos toda a vida para produzir coisa, mercadoria isso repercute em toda a nossa vida, que é o nosso tempo, por um salário. Isso acontece porque no capitalismo temos que comprar todas as coisas da quais precisamos, ou temos dinheiro para compra-las ou não vivemos. Temos que vender nosso trabalho e nosso tempo. Até quando não estamos trabalhamos, alimentamos a máquina da industria, pois em um dia de lazer, um passeio, pagamos passagem, alimentação e outras coisa. Quando se compra algo, não se pensa em quem fez, em todo o trabalho alheio, só se paga pelo produto ou serviço, ignoramos a ligação com o produtor humano, pois passamos a vê-los como produto também.

Direito do texto: Primeiro Aprender
Direito de imagem: Steve Cutts

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