Sam Harris |
Estimular socialmente a necessidade da mentira é uma decorrência lógica de uma sociedade do espetáculo, em que mentir é muito mais do que ocultar a verdade. A mentira chega ao ponto de desconstruir a verdade ao confundi-la com uma narrativa – algo que serve, portanto, ao próprio espetáculo.
Dizer tudo é relativo é um slogan ultrapassado. Agora, tudo é narrativa, e passamos a acreditar que não há nenhum fato que não possa ser redefinido como uma forma de narrativa do protagonista.
Após séculos identificando Deus como A Verdade e o diabo como O Pai da Mentira, a sociedade atual encara o conceito de “verdade” com ironia e ceticismo. Uma das características de nosso tempo é a ideia de que a verdade é relativa, e de que tudo depende do ponto de vista do sujeito. O relativismo moral é uma mentira cuidadosamente elaborada para que ela própria pareça uma verdade.
O problema é que a linha moral entre verdade e mentira é a única que separa nossa caminhada coletiva do rio negro da barbárie e da superstição. E nem precisamos apelar para as virtudes morais do leitor: já está provado que a melhor solução de qualquer conflito humano é a colaboração e a confiança mútua.
Assim, a posição de vantagem perceptível a curto prazo torna-se uma enorme derrota logo adiante.
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